Sábado, 12 de Abril de 2025
O procurador da República e coordenador do Fórum de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos de Mato Grosso do Sul, Marco Antônio Delfino de Almeida, apontou falhas críticas no monitoramento de substâncias tóxicas no estado. Segundo ele, o Laboratório Central de Mato Grosso do Sul (Lacen) não possui estrutura adequada para avaliar os riscos desses químicos em alimentos e água, colocando a população em perigo.
“Temos uma ação civil pública que foi proposta há 10 anos, justamente apontando que o Lacen do Mato Grosso do Sul não tem capacidade de fazer a análise de riscos dos agrotóxicos, tanto em alimentos quanto na água”, afirmou o procurador.
Almeida ressaltou que a incapacidade de fiscalização representa uma grave falha na saúde pública, já que não há mecanismos eficientes para detectar ou reduzir a contaminação. Ele mencionou que a deficiência persiste há anos, mesmo com tentativas de melhorias. "Mesmo os laboratórios estatais não têm a capacidade de monitorar todos os agrotóxicos autorizados, que podem estar na água consumida pelas pessoas", afirmou.
Falta de transparência
O procurador criticou a ausência de clareza nas informações divulgadas pelas concessionárias de água, como Águas Guariroba e Sanesul. Embora as empresas garantam a potabilidade, não esclarecem que a água distribuída pode conter até 40 tipos distintos de agrotóxicos.
“Se tanto a Águas quanto a Sanesul desejam ser transparentes, elas precisam explicar ao consumidor exatamente quais agrotóxicos estão presentes na água. Essa é uma decisão que deve ser tomada pelo próprio consumidor, que paga pelos serviços de saneamento", disse Almeida.
Outra preocupação destacada é a carência de pesquisas sobre os efeitos da combinação de múltiplos agrotóxicos, mesmo em quantidades abaixo do limite legal. "As análises de resíduos de agrotóxicos são feitas com base em dosagens elevadas de um único agrotóxico, mas não se sabe como vários agrotóxicos podem interagir. Isso gera uma grande preocupação em relação à segurança do consumo de água com múltiplos tipos de agrotóxicos", afirmou.
Segundo Almeida, a falta de evidências sobre a segurança dessas misturas é alarmante. “É possível que a combinação de diferentes agrotóxicos, ainda que dentro dos limites permitidos, não seja segura. Não há estudos que comprovem a segurança de consumir uma água com diversos tipos de agrotóxicos ao mesmo tempo”, alertou.
O Fórum liderado pelo procurador planeja criar uma rede de laboratórios especializados para análises toxicológicas, financiada com recursos de multas ambientais. A iniciativa prevê parcerias com instituições como a Fiocruz e universidades locais para ampliar a capacidade de monitoramento no estado.