A Arauco, empresa chilena do setor de celulose, iniciou a construção de sua nova fábrica em Inocência, Mato Grosso do Sul, com um investimento de 4,6 bilhões de dólares. O empreendimento, batizado de Projeto Sucuriú, tem potencial para criar até 14 mil postos de trabalho durante a fase de obras e deve consolidar o estado como um dos principais polos mundiais do setor. A cerimônia de lançamento da pedra fundamental contou com a presença do governador Eduardo Riedel e do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.

"Momento histórico não apenas para Inocência, mas também ao Mato Grosso do Sul. Toda esta região será impactada com este grande investimento privado. Lembro de quando fomos ao Chile, visitamos os empreendimentos e aprendemos a cultura deles. Conhecemos a seriedade, simplicidade e competência do grupo. Lá se estabeleceu um compromisso e confiança para viabilizar o maior empreendimento privado nos dias de hoje", afirmou Riedel.

Capacidade produtiva

A unidade ocupará uma área de 3.500 hectares, a 50 km do centro de Inocência, e terá capacidade para produzir 3,5 milhões de toneladas de celulose de fibra curta por ano. Cerca de 90% da produção será destinada à exportação. As obras de terraplanagem começaram em junho de 2024 e já empregam 2,8 mil trabalhadores na construção da fábrica, além de outros 2 mil na área florestal. No pico das atividades, o número deve chegar a 14 mil pessoas.

"Estamos aqui no maior projeto do mundo de celulose em primeira etapa. Uma indústria que em sua produção 90% vai ser exportada para o mundo. O comércio exterior é o que mais gera empregos. Estamos desburocratizando e reduzindo custos para contribuir com este processo. O desenvolvimento gera empregos, renda e dignidade para população", destacou Alckmin.

Impacto regional

A expectativa é que, após o início das operações em 2027, o projeto gere aproximadamente 6 mil empregos diretos e indiretos nas áreas industrial, florestal e logística. O município de Inocência, que hoje tem 8,4 mil habitantes, pode ver sua população saltar para 32 mil durante a construção, estabilizando-se entre 18 mil e 22 mil após a inauguração.

O prefeito Antonio Ângelo Garcia dos Santos, conhecido como Toninho da Cofap, celebrou a chegada do empreendimento: "Lutamos durante anos para trazer um projeto como este para Inocência. Um trabalho e dedicação de muitas pessoas. Vivemos uma transformação enorme, recebemos agora um dos maiores investimentos do mundo, vamos precisar do apoio de todos, para termos uma cidade próspera, com renda e empregos".

Investimentos complementares

A Arauco destinou 85 milhões de reais para um Plano Estratégico Socioambiental (PES), voltado a melhorias no município. Já o governo estadual investiu mais de 65 milhões de reais em infraestrutura urbana, transporte, saúde, educação e qualificação profissional.

Carlos Altimiras, diretor-presidente da Arauco Brasil, ressaltou a importância da localização: "Estamos no principal eixo de celulose do Brasil, isto nos permite construir a maior fábrica de celulose no mundo. Isto promove prosperidade, avanços sociais e econômicas, com o cuidado de preservar os biomas. Para isto garantimos os melhores parceiros estratégicos, através de um time muito qualificado".

Sustentabilidade e energia

A fábrica operará com um sistema fechado de produção, reaproveitando todos os subprodutos industriais. Além disso, terá capacidade para gerar 400 megawatts (MW) de energia, metade dos quais serão consumidos pela própria unidade, enquanto o excedente será comercializado. A empresa também implementará um rigoroso monitoramento da biodiversidade local, com mapeamento de áreas prioritárias para conservação.

Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento, lembrou a trajetória da região: "Esta terra me traz muitas saudades das pessoas que passaram por aqui. Há 50 anos atrás o então prefeito (Três Lagoas) Ramez Tebet disse que esta terra era propícia para plantação de eucalipto e produção de celulose. Hoje temos aqui a maior fábrica do mundo de celulose".

Desafios sociais

A Arauco identificou nove áreas que podem sofrer pressões sociais devido ao aumento populacional, com destaque para saúde, educação, segurança pública e assistência social, com crescimento da demanda por serviços de saúde e o aumento de casos de prostituição e tráfico de drogas na região.

A Arauco anunciou que possui um plano estratégico de investimentos, em parceria com o governo estadual e a prefeitura, para reduzir os impactos sociais causados pela construção da fábrica.

A fábrica empregará mil trabalhadores diretamente, além de 2 mil na logística e 3 mil nas florestas. A empresa garantiu que o abastecimento de água será sustentável, com recirculação de mais de 90% do recurso utilizado no processo produtivo. A matéria-prima virá de 400 mil hectares de florestas plantadas, sendo que 80% dessa área já está contratada.

"Não vejo preocupação de conseguir atingir os 400 mil daqui até o ano 27, que é quando termina o desenvolvimento do projeto; a outra coisa que é muito importante é a capacidade do plantio que você consegue fazer durante o ano. Então, hoje estamos praticamente na casa de 60, 65 mil hectares por ano plantados e, com isso, nós vamos conseguir atingir a demanda de madeira", afirmou Altimiras.